Ainda o Grito Silencioso

( ... ) O grito do feto assassinado não é silencioso ( ... ). Ele repercute terrível e profundamente na organização do corpo perispiritual do responsável pelo delito. Isso sem falar das conseqüências de ordem interacional entre vítima e verdugo, desde que se considere, com justeza, que feto é apenas a organização somática em formação. O ser que a ele está ligado e do qual é brutalmente separado é Espírito antigo, dotado de sensibilidades e instintos e que mergulhara na carne com autorização de Deus e quase sempre com o assentimento da mãe que, então, o repudia.

( ... ) reservamo-nos o propósito sincero de emitir um apelo fraternal, que poderia até mesmo ser entendido como dramático se não fosse altamente racional, ao coração de todas as mulheres e à mente responsável de todos os homens: NÃO COGITEM DA LEGALIZAÇÃO DO ABORTO. Poderia ser legal, juridicamente, aos olhos do Espírito subordinado ao grabato carnal, isto é, aos olhos do homem materialista que se julga mortal. Mas ninguém se iluda! Pois a verdade é que o aborto constitui gravíssima infração à Lei Divina que rege a Vida no infinito, pesando consideravelmente sobre o Espírito eterno que é o homem, fora do único elemento mortal que o torna cativo no mundo - o casulo de carne.

Compreendamos todos que ninguém se encontra na Terra para o prazer ou o gozo irresponsáveis dos sentidos. Todos mergulhamos na carne - mais ou menos compulsoriamennte - em face de desvios preteritamente ocorridos na errônea utilização do próprio livre-arbítrio. Se alguém pretende matar o filho que lhe honra as entranhas, faça-o em silêncio, como arbítrio seu, comprometendo-se pessoalmente com a Justiça do Criador e sua sabedoria. Mas evite envolver outras pessoas na monstruosidade de seu desamor delituoso. Evite, portanto, aliciar cúmplices. Pois mesmo que o aborto viesse a ser legaliizado pelas instituições político-sociais do mundo, jamais seria legitimado pela própria consciência de seus promotores.

Qualquer das criaturas de Deus tem o direito de candidatar-se à condição de pedra-de-tropeço ao progresso e à felicidade planetária, mas nunca se desobrigará de sofrer as conseqüências naturais de seus erros, colhendo os resultados da semeadura que haja feito. E encerremos estas modestas considerações sobre o aborto provocado, recordando que o que se forma por ocasião da concepção é o começo de um corpo físico, não o ser espiritual que o vai animar. Este é Espírito em processo permanente de evolução, cumprindo simplesmente a Lei Divina dos renascimentos até alcançar a purificação plena.

Inaldo Lacerda Lima. Revista Reformador, jun. 1987 (transcrição parcial).