Cólera
Segundo a idéia falsíssima de que lhe não é possível reformar a sua própria
natureza, o homem se julga dispensado de empregar esforços para se corrigir dos defeitos em
que de boa-vontade se compraz, ou que exigiriam muita perseverança para serem extirpados.
E assim, por exemplo, que o indivíduo, propenso a encolerizar-se, quase sempre se desculpa
com o seu temperamento. Em vez de se confessar culpado, lança a culpa ao seu organismo,
acusando a Deus, dessa forma, de suas próprias faltas. É ainda uma conseqüência do orgulho
que se encontra de permeio a todas as suas imperfeições.
Indubitavelmente, temperamentos há que se prestam mais que outros a atos violentos,
como há músculos mais
flexíveis que se prestam melhor aos atos de força. Não acrediteis, porém, que aí resida a
causa primordial da cólera e persuadi-vos de que um Espírito pacífico, ainda que num corpo
bilioso, será sempre pacífico, e que um Espírito violento, mesmo num corpo linfático, não
será brando; somente, a violência tomará outro caráter. Não dispondo de um organismo
próprio a lhe secundar a violência, a cólera tornar-se-á concentrada, enquanto no outro caso
será expansiva.
O corpo não dá cólera àquele que não na tem, do mesmo modo que não dá os outros
vícios. Todas as virtudes e todos os vícios são inerentes ao Espírito. A não ser assim, onde
estariam o mérito e a responsabilidade? O homem deformado não pode tornar-se direito,
porque o Espírito nisso não pode atuar; mas, pode modificar o que é do Espírito, quando o
quer com vontade firme. Não vos mostra a experiência, a vós espíritas, até onde é capaz de ir
o poder da vontade, pelas transformações verdadeiramente miraculosas que se operam sob as
vossas vistas? Compenetrai-vos, pois, de que o homem não se conserva vicioso, senão porque
quer permanecer vicioso; de que aquele que queira corrigir-se sempre o pode. De outro
modo, não existiria para o homem a lei do progresso. - Hahnemann. (Paris, 1863.)
KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. FEB. Capítulo 9. Item 10.