Questões 769 a 772 - Vida de insulamento. Voto de silêncio

Respostas dos guias espirituais para Allan Kardec no Livro dos Espíritos.

769. Concebe-se que, como princípio geral, a vida social esteja na Natureza. Mas, uma vez que também todos os gostos estão na Natureza, por que será condenável o do insulamento absoluto, desde que cause satisfação ao homem?

"Satisfação egoísta. Também há homens que experimentam satisfação na embriaguez. Merece-te isso aprovação? Não pode agradar a Deus uma vida pela qual o homem se condena a não ser útil a ninguém."

770. Que se deve pensar dos que vivem em absoluta reclusão, fugindo ao pernicioso contacto do mundo?

"Duplo egoísmo."

770a. Mas, não será meritório esse retraimento se tiver por fim uma expiação, impondo-se aquele que o busca uma privação penosa?

Fazer maior soma de bem do que de mal constitui a melhor expiação. Evitando um mal, aquele que por tal motivo se insula cai noutro, pois esquece a lei de amor e de caridade.

771. Que pensar dos que fogem do mundo para se votarem ao mister de socorrer os desgraçados?

"Esses se elevam, rebaixando-se. Têm o duplo mérito de se colocarem acima dos gozos materiais e de fazerem o bem, obedecendo à lei do trabalho."

771a. E dos que buscam no retiro a tranqüilidade que certos trabalhos reclamam?

"Isso não é retraimento absoluto do egoísta. Esses não se insulam da sociedade, porquanto para ela trabalham."

772. Que pensar do voto de silêncio prescrito por algumas seitas, desde a mais remota antigüidade?

"Perguntai, antes, a vós mesmos se a palavra é faculdade natural e por que Deus a concedeu ao homem. Deus condena o abuso e não o uso das faculdades que lhe outorgou. Entretanto, o silêncio é útil, pois no silêncio pões em prática o recolhimento; teu espírito se torna mais livre e pode entrar em comunicação conosco. Mas o voto de silêncio é uma tolice. Sem dúvida obedecem a boa intenção os que consideram essas privações como atos de virtude. Enganam-se, no entanto, porque não compreendem suficientemente as verdadeiras leis de Deus."

Comentário de Allan Kardec:

O voto de silêncio absoluto, do mesmo modo que o voto de insulamento, priva o homem das relações sociais que lhe podem facultar ocasiões de fazer o bem e de cumprir a lei do progresso.

KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 76.ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1995.