Em defesa da vida

"Não haverá paz na Terra enquanto existirem os abortos criminosos, filhos da falta de humanidade"

Corria o mês de dezembro de 2012. Era um dia como outro qualquer. Eu havia chegado cansada, jantei e fui ver TV. Os comerciais não nos deixavam esquecer de que era tempo de Natal. Falavam de amor e de paz. Contudo, o noticiário chocou a todos. Fui dormir impressionada com as cenas do jovem que assassinara muitas crianças em uma escola americana. Como não podia ser diferente, aquela notícia havia provocado comoção no mundo inteiro.

Antes de dormir, rezei pedindo a Deus pelas famílias daquelas crianças mortas. A oração acalmou meu coração e dormi mais serena.

Era madrugada. Eu tinha consciência de que estava dormindo; no entanto, sonhava. No início, não entendia direito o que se passava. Percebia que alguém me convidava a conhecer um lugar diferente e muito triste, que se assemelhava a um grande hospital de bebês. Ali estavam milhares de bebês de nacionalidades diferentes. Todos eles se mostravam sofridos e choravam bastante. Era um choro diferente, parecia um profundo lamento, só amenizado pelo carinho maternal de algumas mulheres que os abraçavam comovidas.

De repente, sem que entendesse o porquê, eu me encontrava de frente para um telão, assistindo outro noticiário que mostrava a cena de uma mulher jovem matando crianças. As pessoas estavam desesperadas. Para minha grande surpresa, constatei que ela não estava só. Muitas outras mulheres e homens a apoiavam. O que mais me espantava era que os próprios governantes, alguns profissionais da saúde, da Justiça e até familiares das vítimas concordavam com o massacre, que se repetia a cada minuto e em muitos outros lugares, simultaneamente. O número de vidas ceifadas era impressionante. Tinha a dimensão de uma grande e cruel guerra, permitida pelas autoridades!

Sem acreditar no que via, eu me perguntava: Que mundo é este? Onde estavam os homens bons? Como podiam aceitar tanta atrocidade? Estávamos no tempo da barbárie?...

Neste momento, passei a ouvir vozes que protestavam. Embora fossem milhares e milhares, vindas de todo lugar, não eram suficientes para evitar outras mortes.

Dentre as pessoas que protestavam havia um cantor conhecido. Ele lutava contra o massacre usando como “arma” a sua música, que trazia em seus acordes o seguinte pedido: “... por isso não mate, evite este aborto, ninguém quer ser morto, nem eu nem você .”

A b o o o r t o ?! Então, os fatos foram ficando mais claros e eu comecei a perceber que o massacre a que o noticiário do sonho se referia era o de crianças abortadas!

O sonho continuava. Agora, eu estava mais lúcida para entendê-lo. No telão do noticiário aparecia uma linda mulher que falava de paz. Ela dizia que estava ali para convidar todos os homens para fazerem parte de um projeto divino que se iniciara no plano espiritual. Tratava-se de uma grande campanha visando defender a inviolabilidade do direito à vida desde a concepção, esclarecer que a gravidez é um momento divino e que o aborto é crime aos olhos de Deus, mesmo que seja legalizado pelos homens!

Ao concluir sua mensagem, a linda mulher mostrou uma estatística impressionante: afirmara que, no exato instante do massacre acontecido no colégio norte-americano, milhares de vidas foram exterminadas cruelmente pelo aborto, sem que o mundo se indignasse! Ela perguntava se mundo não se revoltava com as crianças mortas nos ventres maternos. Se não conseguia ouvir os gritos silenciosos dos inocentes que não podiam se defender, nem correr ou gritar para pedir ajuda!

Neste momento, uma força maior fez com que eu me lembrasse das crianças tristes que vira chorando no hospital de bebês. Compreendi que elas haviam sido abortadas. Vindas de todas as nações e recebidas pela misericórdia divina em um pouso de amor, situado nas paisagens de Deus. As mulheres que lá estavam eram criaturas boas, arrependidas pelos abortos praticados, que procuravam se redimir por meio do amor que cobre a multidão de pecados...

Impactada, compreendi a significativa mensagem do impressionante sonho, que continuava nítido e revelador. Paradoxalmente, eram duas situações tão diferentes, mas incrivelmente semelhantes: o atentado ocorrido na vida real, na escola de um país evoluído, e a cena vivida na paisagem que o sono possibilitara por meio daquele inesquecível sonho, que continuava e mostrava, em uma tela translúcida, a figura da repórter do bem. Agora, ela se despedia explicando que, enquanto as mortes acontecidas no colégio eram noticiadas como um crime contra a humanidade, o aborto era permitido legalmente!

Ambas as situações atentavam contra o direito de viver, a diferença estava na forma com que os assassinatos eram perpetrados: impressionante comparação! No primeiro caso, o assassino era um homem que perdera o juízo. No caso dos abortados, os responsáveis eram as próprias mães, que deveriam ser amparadas e esclarecidas acerca da sublimidade da gravidez e, no entanto, eram ajudadas por profissionais que desrespeitavam vergonhosamente o juramento de cuidar da vida, muitas vezes inspirados por interesses inconfessáveis.

A mulher encerrava o noticiário com os olhos rasos d´água, lembrando que não haverá paz na Terra enquanto existirem os abortos criminosos, filhos da falta de humanidade, que fria e anonimamente eram trucidados (literalmente) pela ignorância, pelo egoísmo e morriam em clínicas clandestinas de justiça, de compreensão e de amor...

Sentindo as vibrações de amor emanado pela repórter do bem, acordei. O sonho fora tão real que a comoção ainda batia em meu peito... e chorei. Chorei pelo desamor que ainda somos capazes sentir e de praticar. Foi aí que decidi escrever o que vi no sonho e transformá-lo em um artigo.

Depois, abracei a esperança em meu coração e sonhei acordada, acreditando com todas as minhas forças que o projeto divino em defesa da vida se consolidaria no coração do mundo. Nós, ainda, veríamos o Brasil sem aborto e a Terra livre da exterminação silenciosa e inconsequente de seres indefesos.

Peço a Jesus que estas palavras não provoquem o arrependimento que deprime no coração de mulheres que um dia praticaram aborto. Que saibam transformar o remorso pelo trabalho em prol do bem, defendendo crianças indefesas.

Calamos nossas palavras lembrando que na “Contabilidade Divina” o amor sempre cobrirá a multidão de pecados, e, repetimos a consoladora frase de Chico Xavier: “Ninguém no mundo pode voltar atrás e fazer um novo começo, mas qualquer um pode começar agora e fazer um novo fim”.

O ano novo chegou. O mundo novo precisa de nossas mãos para ser construído. A vida precisa ser defendida em todos os aspectos e a fórmula já nos foi dada há mais de dois mil anos: Façamos aos outros apenas o que queremos que eles nos façam. Esta é a lei e os profetas... Feliz ano novo!

Maia, Olga Espíndola Freire. Fonte: O Povo, Jornal de Hoje, Fortaleza, 06 jan. 2013. Olga Espíndola Freire Maia é presidente da Associação Peter Pan (assistência às crianças com câncer).